Europa levará 18 meses para sair da crise, dizem analistas


A nova fase da crise na zona do euro, que leva a região a experimentar índices recorde de desemprego neste ano, está longe de ter uma solução, segundo especialistas.

Para Robert Hancké, professor do Instituto Europeu da London School of Economics, a zona do euro corre risco de experimentar diversos anos de contração econômica, a pior situação desde a conturbada década de 1930.

"O pior cenário que se pode imaginar é possível atualmente", afirma Hancké. O professor estima que a região terá estagnação ou recessão pelo menos por 18 meses.

A expectativa é mais pessimista do que os números divulgados pelo Fundo Monetário Internacional (FMI), que prevê uma contração de 0,3% do PIB (Produto Interno Bruto) em 2012, mas projeta crescimento de 0,9% em 2013.

Até o momento, o bloco de 17 países que adotam a moeda única experimentou estagnação no primeiro trimestre e contração de 0,2% do PIB no segundo trimestre do ano.

De acordo com dados da série histórica de crescimento da região publicados pela Eurostat, agência oficial de estatísticas, é improvável que a zona do euro sofra contração pior do que em 2009, único ano em que registrou queda até o momento, com desaceleração de 4,4% do PIB.

O desemprego, contudo, vem aumentando progressivamente desde 2007, conforme os dados da Eurostat: de 7,6% ao fim daquele ano, chegou a 11,3% em julho de 2012, com 18 milhões de pessoas fora do mercado de trabalho.

O caso da Espanha é sintomático, para o professor Hancké, e mostra o que pode acontecer no futuro com outros países da região.

Em dois anos, de 2008 a 2010, o desemprego saltou de 11,3% para 20,1% da população. Hoje, a taxa é de 25,1%, a maior da zona do euro.

Ramon Pacheco, especialista em Espanha e professor do King's College, em Londres, afirma à Folha que a situação não deve melhorar pelos próximos dois anos, mas não imagina que o desemprego no país fique pior.

"O crescimento do desemprego realmente foi muito veloz, mas já houve uma grande redução na imigração e muitas pessoas, especialmente jovens, estão deixando a Espanha em busca de empregos em outros lugares", avalia Pacheco.

Os dois professores concordam que, no atual modelo, não há resposta que as autoridades europeias possam conceber para resolver a crise, que já obrigou cinco países --Chipre, Espanha, Grécia, Irlanda e Portugal-- a recorrerem a seus empréstimos.

"A compra de títulos no mercado de dívida pública pelo Banco Central Europeu alivia pressões, mas o banco não pode oferecer um pacote de estímulo à economia, como faz o Fed nos EUA", afirma Pacheco.

Para o professor, o BCE precisaria de mais poder e deveria aceitar inflação maior na zona do euro se isso fosse acompanhado de crescimento do PIB. Pacheco não vê o euro em risco, mas considera improvável que os 17 países sigam usando a moeda.

Já Hancké acredita que a situação da zona do euro permanecerá ruim: "Se a moeda única continuar, haverá problemas; se ela ruir, haverá problemas também".

O professor da London School of Economics critica a atuação do BCE e do Conselho Europeu até aqui no combate à crise: "Por ironia, eles têm os instrumentos, mas o que me choca é o quão ineptos foram. Se tivessem resolvido a questão da Grécia em 2010, a situação seria outra agora".