Bancos
Engenheiros fora de obras


Os melhores cérebros da engenharia estão indo para o mercado financeiro, e não para os setores mais críticos, como indústria, infraestrutura e energia

Os engenheiros nunca foram tão necessários como agora. Estima-se que seria preciso duplicar a oferta de profissionais na área a cada ano para atender minimamente às necessidades atuais do país. É fato que há mais cursos de engenharia. Enquanto nos anos 1980 surgiam três novas escolas de engenharia a cada dois anos, desde 1996 foram criados 125 novos programas a cada ano, segundo os dados da Associação Brasileira de Educação de Engenharia. As universidades também vêm colocando um número cada vez maior de profissionais no mercado. Em 2005, saíram das faculdades brasileiras 26 753 engenheiros. Em 2010, esse montante já havia chegado a 41 112. Porém, para responder à demanda das empresas, é necessário formar 75 000 engenheiros por ano, segundo estudo da Confederação Nacional da Indústria. O problema não está apenas no lado da oferta. Dos profissionais que chegam ao mercado, muitos têm preferido atuar no setor financeiro. “Apenas três de cada dez engenheiros permanecem em sua área típica. Os demais migram para outras carreiras”, diz Carlos Cavalcante, superintendente do Instituto Euvaldo Lodi (IEL), entidade que atua junto a universidades e setor privado, preparando os jovens para o mercado. Segundo Carlos, o quadro é uma herança das décadas de 1980 e 1990, quando nem a indústria nem a construção civil conseguiam empregar os formados. Pesam na decisão de migrar para o segmento financeiro fatores como melhor remuneração, plano de carreira acelerado, status e possibilidade de continuar morando nos centros urbanos, o que é inviável para os jovens engenheiros que trabalham em grandes projetos de infraestrutura, cujos canteiros de obras estão espalhados pelos rincões do país.

Danilo de MeloAguiar e Oliveira, de 27 anos, estudou engenharia civil justamente por entender que a profissão permitiria escolher uma de duas áreas que adora: finanças e engenharia civil. Danilo acabou pendendo para a área financeira ao comparar as perspectivas de carreira. “Tenho amigos que optaram pela civil, foram trabalhar em regiões inóspitas, não aguentaram e desistiram”, diz. Ao se formar, em 2010, o jovem se inscreveu nos programas de trainee dos grandes bancos. Entrou no Itaú e foi contratado. “O trabalho em grandes obras é difícil e pode significar passar até um ano morando longe de casa, em locais com pouca infraestrutura.” Danilo considera que a carreira num banco oferece mais incentivos – como pagamento de bônus, prêmios e participações nos lucros – do que os oferecidos por companhias de engenharia. Os especialistas confirmam essa percepção. “No mercado financeiro, depois de um ano já é possível receber remunerações relativamente altas. Um engenheiro de obras terá um salário no mesmo patamar só depois de alguns anos de experiência”, diz Fabiano Kawano, gerente dadivisão de engenharia da empresa de recrutamento Robert Half, de São Paulo. Dentro dos bancos as áreas que mais atraem os jovens são varejo, pelos desafios e competitividade,e investimentos, pelo status e pela remuneração ainda mais agressiva do que nas outras unidades. Porém, a carreira em instituições bancárias cai melhor para quem é seduzido pelo mundo das finanças. No dia a dia, a rotina é exigente, há muita pressão por resultados e existe pouca margem para erro. O ambiente interno é formal e cheio de regras. O engenheiro que gosta de colocar a mão na massa provavelmente vai achar entediante o cotidiano num banco.